sábado, 19 de maio de 2007

Um mundo perigoso

Além-Mar
Novembro 2005



Excertos


Um mundo perigoso

Durante décadas, a política nuclear tanto da ex-União Soviética como dos Estados Unidos baseava-se no conceito de dissuasão de destruição mútua assegurada (MAD). Apesar do fim da Guerra Fria, o espectro do terror ainda assombra a humanidade. Os arsenais nucleares foram reduzidos drasticamente, mas ainda existem milhares de ogivas nucleares. Em 1994, Norte-‑Americanos e Russos concordaram em redireccionar os seus mísseis. Já em 2001, George W. Bush afirmou ser necessário voltar a testar armas nucleares. A pesquisa e o desenvolvimento de armas nucleares continuam, a par das mudanças no quadro político mundial. Tradicionalmente, cinco países integravam o clube atómico: Estados Unidos, Rússia, China, França e Grã-‑Bretanha. Contudo, parece consensual que outros países também possuem armas nucleares. A Índia e o Paquistão já realizaram testes nucleares, que acenderam temores de uma escalada armamentista no Sudeste Asiático. Entre outras nações suspeitas de terem programas nucleares contam-se Israel, a Argélia e o Irão. Para além da Coreia do Norte, onde impera um regime desumano e desacreditado que, apesar de sucessivos acordos e ameaças de sanções, recorre sempre ao nuclear para pressionar a comunidade internacional. Mais de 180 países assinaram o Tratado de Não-Proliferação Nuclear, em vigor desde 1970. Até hoje, porém, várias nações sob forte suspeita de ocultarem as suas ambições nucleares ainda não o fizeram.

Presentemente, com a globalização do terrorismo, uma das maiores ameaças que pesam sobre o mundo é que algum grupo radical se apodere do material atómico que, no caso da ex-URSS, foi deixado praticamente ao abandono, espalhado por vastas regiões do ex-império soviético. Há provas de que há contrabando de material nuclear e conhece-se até os nomes de alguns grandes traficantes. Mas a revista Scientific American lembrou recentemente que «qualquer tráfico detectado é apenas a ponta do iceberg» e que, naturalmente, «o mercado negro de material nuclear não é excepção». O artigo alerta: «É ingénuo acreditar que as autoridades interceptem mais de 80 por cento do que é traficado. Mas, neste caso, mesmo uma pequena taxa de não apreensões pode ter resultados funestos.» Mikhail Kulik, um especialista em armamento russo, afirma que, «hoje em dia, até mesmo os “stocks” de batatas são provavelmente mais bem guardados do que os materiais radioactivos». Outro perigo: após o desmembramento da URSS, uma boa parte do pessoal que trabalhava no programa militar soviético ou ficou desempregado ou perdeu subitamente o prestígio e o poder de compra. Daí ser grande a tentação de desviar e vender parte dos «stocks» ou de ser aliciado por países ou grupos que paguem melhor pelo seu saber.